Professor Vilton Soares fazendo a abertura do evento
No último dia 13 de maio de 2010 organizamos (eu, a profª. de teatro Jacqueline e a Fernanda) um evento visando refletir a "Abolição" da escravatura no Brasil. A proposta contemplou também o debate sobre o Genocídio dos Tutsis pelos Hutus em Ruanda e a exibição do filme "Hotel Ruanda". Os meus alunos fizeram a crítica ao filme e logo depois tivemos uma mesa composta com o Angolano Adriano Kilala e a Fernanda, da UFMA.
Cláudia Paixão e o Crítico José Lucíolo
Os convidados especiais - Sempre presente aos eventos (À direita, a renomada psicanalista Anícia Ewerton)
Para quem não conhece o filme "Hotel Ruanda", recomendo fortemente.
sinopse: Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito.
Aluna fazendo sua crítica ao filme
Cláudia Patrícia de Luna Silva, diretora executiva da ONG Elas por Elas, vozes e ações das mulheres, analisa que o peso do 13 de maio para a população negra é "nenhum". "Os negros dormiram escravos e acordaram libertos, sem nenhuma política pública de inclusão", ressalta Cláudia.
A diretora da ONG Elas por Elas cita que grupos étnicos que vieram ao Brasil para substituir a mão de obra escrava - como alemães, italianos e japoneses - receberam incentivos financeiros para viver no país. Enquanto os negros permaneceram sem nenhum auxílio ou política de inclusão.
Segundo Cláudia, a verdadeira data de referência histórica negra é 20 de novembro, em alusão a Zumbi dos Palmares. "Em 20 de novembro é que a gente faz uma avaliação de nossas conquistas e lutas", explica.
Fernanda preparando a sua apresentação
A diretora do IFMA - Centro Histórico, Denise Bogéa, parabenizando o evento
Após 110 anos da libertação, os negros brasileiros continuam lutando pela liberdade e cidadania. Depois da África, o Brasil é o país que concentra a maior população negra do mundo e também onde os negros permanecem ocupando a mais baixa localização na pirâmide social.
O termo exclusão é o que mais fielmente traduz a condição em que se encontra o povo negro no Brasil e no mundo. Nos últimos anos, experimentou-se, em escala mundial, uma brutal concentração de renda e de poder. As elites põem em prática projetos conservadores, que recolocam o racismo na ordem do dia - quer seja através da rearticulação e do avanço da direita nos países europeus, quer através do desmonte de políticas sociais antes destinadas aos segmentos marginalizados da população.
Na África morreram, no ano passado, cerca de meio milhão de pessoas por doenças pulmonares, além das mortes provocadas pela fome, guerra e epidemias. No Brasil, é a parcela negra da população a mais duramente atingida pelo desmonte das políticas sociais e de saúde, pelos sistemas de controle populacional, pelo desemprego crônico, pela fome e a violência do latifúndio, do aparato policial e dos grupos de extermínio. É negra a maioria de crianças que vivem nas ruas e de jovens assassinados nos centros urbanos.
Kilala dando um emocionante depoimento sobre o preconceito sofrido no Brasil
Dados assustadores :
Dados referentes nos Indicadores Sociais Mínimos do IBGE de 1996 mostraram que a taxa de mortalidade entre crianças negras e pardas no Brasil é dois terços superior à da população branca da mesma idade. Em outras palavras, até os 5 anos, elas têm 67% mais chances de morrer do que uma criança branca. O índice de mortalidade de crianças brasileiras pardas e negras de até 5 anos de idade é de 76 para cada mil nascida vivas. Entre as brancas, a taxa cai para 46 mortes em cada mil.
Também entre os adultos, os homens e mulheres negros estão em condições de maior desigualdade em nosso país. Dados do último censo realizado pelo IBGE em 1990, revelam que entre os brasileiros que contavam com carteira assinada, 58% eram brancos e 41% negros (34% considerados pardos mais 7% considerados negros). De cada 100 empregados, 51% sobreviviam com salário mínimo. Do total de trabalhadores que ganhavam um salário mínimo, 79% eram negros. A inserção no mercado de trabalho é precoce: as crianças brancas de 10 a 14 anos somam 14,9% e as negras 20,5%.
Na área educacional, em 1997, segundo o IBGE, 18% da população brasileira é analfabeta, sendo que entre os negros este percentual sobe para 35,5%, enquanto na população branca é de 15%. No outro extremo, 4,2% dos brancos e apenas 1,4% dos negros haviam alcançado o ensino superior. Em todos os níveis educacionais, a participação do segmento branco é nitidamente superior à do segmento negro. Essa desigualdade reflete-se no acesso ao emprego, aos serviços, aos direitos mínimos de cidadania e na participação no poder, além do aspecto ideológico, marcado pelos preconceitos e estereótipos.
Encerramento da palestra do Adriano Kilala
Obrigado a todas e todos que colaboraram para o sucesso de mais este evento no IFMA.
Um abraço,
Professor Vilton Soares
17/05/2010